Cerca de 200
pessoas se inscreveram nesse evento, realizado com o propósito de atualizar, capacitar e reciclar profissionais e voluntários, para a contínua melhoria dos serviços oferecidos aos idosos, informou a assessora executiva da Fisesp, Sueli Schreier.
Os
palestrantes confirmaram a fase de transição em que vivemos, com a inversão da pirâmide
etária brasileira, fato que já ocorreu nos países desenvolvidos e agora é
vivenciado na América Latina. Com a longevidade, é fundamental o sexagenário planejar
o futuro, pois a tendência é viver três ou mais décadas além do previsto quando
de seu nascimento. Por outro lado, para manter qualidade de vida, não basta
cuidar da saúde do organismo, também é primordial lutar por políticas públicas
para melhorar as condições socioeconômicas daqueles com mais de 60 anos.
Nas últimas
décadas, proporcionalmente, a população brasileira de idosos cresceu mais do que a população do
país. Veja os gráficos:
http://douranews.com.br/brasil/item/44824-em-50-anos-percentual-de-idosos-mais-que-dobrou-no-brasil
POLÍTICAS PÚBLICAS
Na abertura do seminário, o vereador
Gilberto Natalini (PV) destacou a importância dos debates, como os promovidos
pela Fisesp, para a criação de políticas públicas para o bem estar do idoso. Divulgou
que estão abertas as inscrições para o 3º Congresso Municipal sobre
Envelhecimento Ativo, que será promovido na Câmara de São Paulo, no próximo dia
03 de outubro. Natalini foi um dos organizadores do evento, pois é membro da Comissão
do Idoso daquela instituição. Inscrições: http://envelhecimentoativo.com/
RESPEITO
O presidente executivo da
Fisesp, Ricardo Berkiensztat, destacou o respeito aos velhos. Citou que se fala
muito em QI (Quociente de Inteligência) e QE (Quociente Emocional), mas
não se pode esquecer a importância do QEx (Quociente Experimental), pois o
idoso tem toda a sabedoria que adquiriu em vida e essa é mais eficaz do que a
teórica. O respeito ao idoso insere-se nas tradições judaicas. Assim, a Fisesp
prestou homenagens a dois alunos de cem anos da Universidade Aberta da Terceira
Idade da PUCSP: Eugênia Fischer e Jaime Kuperman.
Rabino David Weitman, vereador
Gilberto Natalini, Ricardo Berkiensztat (presidente executivo da Fisesp),
Carmem Nahaissi (voluntária) e homenageados: Eugênia Fischer e Jaime Kuperman
Muito simpática, Eugênia enfatizou
que a convivência com colegas e professores retarda o envelhecer. E afirmou:
"até hoje, quando falam em idoso, eu não penso que é comigo". Jaime,
citando o Antigo Testamento, disse que Moises viveu 120 anos e é essa a idade
que ele deseja para todos. Depois, leu o texto: "Para todos
que nasceram antes de 1945", já conhecido via internet.
https://avelhiceehumamerda.wordpress.com/
GRATIDÃO
Em seu pronunciamento, o rabino
David Weitman salientou a importância da gratidão, sentimento que também integra
as tradições judaicas. Citou que, como
as sementes que se transformam em árvores, foram os idosos que criaram as
condições para as realizações que agora são vivenciadas. Por isso, tudo que é
feito para a terceira idade ainda é pouco, é preciso ensinar aos filhos e aos netos
a importância do respeito e da gratidão aos mais velhos.
DESAFIOS
Maria
Lúcia Lebrão, médica, mestra e doutora em saúde pública, quando se apresentou,
contou: observando a legislação brasileira, ao completar 70 anos de trabalho na
Faculdade de Saúde Pública da USP, lhe falaram "até logo". Para não
parar, pois tem plena condição para prosseguir sua vida acadêmica, ela é
professora titular sênior naquela instituição - trabalha sem remuneração!
Sobre
o mercado de trabalho para o idoso, nessa fase de transição, acrescento que a
idade é fator de preconceito no setor privado, com exceção de pessoas em
posição de poder de mando. Quando estão se aproximando dos 60 anos, profissionais
gabaritados, com uma bagagem de mais de 40 anos, enfrentam o preconceito de
seus colegas mais jovens. São marginalizados, "esquecidos" e
dispensados. Por outro lado, quando se aposentam e deixam de trabalhar, também enfrentam
o preconceito da sociedade que questiona: "por que parou se ainda tem
saúde?" Vale ressaltar que, mesmo tendo disposição e vontade, o reingresso
no mercado é praticamente impossível, pois no país persiste o problema cultural
de não se contratar sexagenários.
Maria Lúcia Lebrão
Durante
mais de uma hora de palestra, Maria Lúcia conquistou a atenção do público. Entre
outros temas, expôs dados da pesquisa SABE (Saúde, Bem Estar e Envelhecimento),
que ela coordena na Faculdade de Saúde Público. É um estudo longitudinal de
múltiplas coortes (subdivisões) sobre as condições de vida e saúde dos idosos
de São Paulo. Considera-se que com o avanço da idade, geralmente, ocorrem
comprometimentos cognitivos e funcionais. Por isso, muitos idosos não têm medo de
morrer, mas têm medo de ficar incapaz de realizar os cuidados pessoais
rotineiros. Outro segmento analisado, nesse estudo, refere-se aos filhos idosos
que têm papel de cuidadores de seus pais, situação decorrente da longevidade
registrada nas últimas décadas.
PERFIS DE SAÚDE DAS PESSOAS IDOSAS
=> Saudáveis
=> Necessitando de cuidados agudos
=> Com condições crônicas
=> Com condições crônicas complexas
=> No fim da vida
=> Com necessidades especiais
=> Com papel de cuidadoras
Entre outros assuntos, Maria Lúcia também destacou que a mulher vive mais do que o homem, portanto, é preciso promover
ações específicas para atendê-las. Na sociedade, geralmente, os homens idosos são
mais amparados. Os viúvos têm facilidade para se casar novamente e, ainda, é uma
tendência da família acolhê-lo. Já a mulher está mais predisposta a morar
sozinha e se cuidar. E, neste caso, "qualquer pouco som pode dar tudo
errado", basta uma gripe ou uma queda para desestruturar a rotina. São
fatores como esses que se enquadram na chamada síndrome da fragilidade
(semi-dependência). Outro desafio é a dificuldade econômica.
ASPECTOS BIOPSICOSSOCIAIS
A imagem do famoso jequitibá
rosa, de Santa Rita do Passa Quadro (SP), com mais de três mil anos, ilustrou o
início da palestra sobre aspectos biopsicossociais na longevidade, proferida pelo
médico Wilson Jacob Filho, diretor do serviço de geriatria do Hospital das
Clínicas e professor titular dessa disciplina na FMUSP.
Para a longevidade, atuam três
fatores: genético, comportamental e ambiental. A genética determina uma
predisposição, mas observando aspectos comportamentais e ambientais adequados é
possível promover envelhecimento saudável. Com esse propósito, o Serviço de
Geriatria do Hospital das Clínicas oferece, gratuitamente, curso para o desenvolvimento
das capacidades físicas, mentais e sociais dos indivíduos. As inscrições estão
abertas e para participar basta ser adulto com independência para a locomoção.
Inscrições: www.gerosaude.com.br
No evento no Ten Yad, novamente,
o tema preconceito esteve em pauta. O médico ressaltou que o termo
"idoso" ainda é pejorativo, denota "coisa" velha (acabada),
mesmo existindo muitos sexagenários com jovialidade. Isso só vai mudar quando a
sociedade valorizar a biografia, a experiência do indivíduo.
Como Maria Lúcia, o médico
também salientou que não existe um padrão de velhice, a terceira idade é
heterogenia. O principal fator para manter o corpo funcional é um programa de
atividade física - é extremamente prejudicial o desuso da musculatura. E, sobre
o cuidado com idoso, Wilson salientou que paciência e carinho não bastam, é
fundamental ter conhecimentos específicos.
Wilson citou pesquisa, realizada nos EUA,
para eleger os melhores lugares do mundo para envelhecer (observe: não é para migrar
para esses países depois de velho). Foram considerados, basicamente, quatro itens:
(1) segurança econômica (incluindo política previdenciária), (2) atendimento à
saúde/expectativa de vida, (3) nível de instrução, capacitação e
empregabilidade do idoso e (4) situação da sociedade - vida social, segurança física, liberdade cívica e acesso ao transporte público.
Despontaram: Suécia, Noruega, Suíça, Canadá e Alemanha. O Brasil ficou em 31º lugar. Mais
informações: http://www.helpage.org/global-agewatch/population-ageing-data/country-ageing-data/?country=0
Concluindo, o médico catedrático salientou que para um
envelhecimento com bom nível de qualidade é inexorável ter um planejamento
socioeconômico. Finalizou com a frase de Arnaldo Antunes: "A coisa mais
moderna que existe nessa vida é envelhecer".
PLANOS E EXPERIÊNCIAS
O seminário prosseguiu
após o almoço. Foi apresentado o "Plano de Diretrizes do Envelhecimento da Comunidade Judaica", realizado com a parceria da Fisesp. Esse estudo foi desenvolvido pela Angatu, consultoria que atende
empresas e organizações que oferecem produtos e
serviços para a terceira idade.
Essa apresentação foi feita pela sócia-diretora
de negócios, Denise Mazzaferro, mestra em gerontologia pela PUCSP. Ela discorreu
sobre os diferentes tipos de residências que acolhem idosos que não têm
condições de morar sozinhos ou com familiares. Um dos exemplos citados foi o
moderno Lar Recanto Feliz vinculado à Sociedade Beneficente Alemã. http://larrecantofeliz.com.br/
Finalizando o
seminário, foram realizadas palestras sobre experiências inovadoras de
entidades assistenciais. Entre os temas, o "Envelhecimento das Pessoas com
Deficiência Mental", detalhado pela presidente do
Grupo Chaverim, Ester Tarandach. http://www.grupochaverim.org.br/
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Fotos: reproduções