domingo, 4 de outubro de 2015

Em Debate Envelhecimento Ativo e Digno


O "III Congresso Municipal sobre Envelhecimento Ativo - Cidade Amiga do Idoso: São Paulo" demonstrou como o público da terceira idade está se mobilizando em busca de melhor qualidade de vida. Cerca de 1.100 pessoas estiveram, sábado passado, no evento realizado no salão nobre da Câmara Municipal da capital.


 Câmara Municipal, Salão Nobre

O evento aconteceu por iniciativa do vereador Gilberto Natalini (PV). Na abertura, ele lembrou que "já somos 1 milhão e 500 mil idosos na cidade de São Paulo, estima-se que em 2050 esse número irá triplicar e ultrapassar o número de crianças. O envelhecimento não pode ser visto como um problema social e sim como uma conquista, por isso precisamos trabalhar para que as pessoas envelheçam com futuro. Precisamos avançar muito nas políticas públicas voltadas aos idosos, o poder público não está acompanhando o crescimento desse segmento da população." http://envelhecimentoativo.com/

Vereador Gilberto Natalini (PV)

Vida Digna
A palestra magna sobre "Envelhecimento ativo: quem financia?" foi proferida pelo economista e jornalista Jorge Felix. Citando o relatório da OMS (Organização Mundial da Saúde) divulgado em 01 de outubro passado, Dia do Idoso, ele sugeriu acrescentar o termo "digno" ao processo de envelhecimento acelerado da população.

Ele disse que, há 13 anos, a OMS difundiu o envelhecimento ativo e, ao longo desse tempo, houve uma deturpação do conceito. Com a palavra "ativo", entende-se que é obrigação do indivíduo se manter produtivo para ter um envelhecimento bem sucedido. Ou seja, a pessoa deve financiar suas necessidades na velhice, sempre com mais tempo no mercado, independente dos anos que já trabalhou, a despeito de condições desiguais e das diferenças individuais. O conceito também é excludente com aqueles que apresentam incapacidade, às vezes prematura, e com os mais idosos. Compreendendo o envelhecimento também como "digno" é dado, ao indivíduo, o direito de optar por avaliar se sua base produtiva já foi suficiente à sociedade, portanto, ele tem o direito de escolha: aposentar-se ou continuar trabalhando. Ressalta-se que a velhice é heterogenia.

Economista e jornalista Jorge Felix

O economista disse que a qualidade de vida vincula-se ao tripé: saúde, educação e trabalho. No Brasil, a grande maioria conta apenas com o SUS (Sistema Único de Saúde) e os investimentos públicos na área são irrisórios. O trabalho do indivíduo com mais idade é desprestigiado na empresa, sua saída é involuntária, poucos empregam os mais velhos e, paulatinamente, assistimos o desmonte do sistema de seguridade social. Também é preciso se preocupar com a educação continuada.

Citando o movimento migratório, acentuado dos últimos tempos, Jorge frisou que a economia está globalizada, portanto, um envelhecimento de qualidade no Brasil depende de todo o planeta. Concluindo, disse que é preciso cautela para o envelhecimento não ser mais um fator de desigualdade.

Financiamentos
Ainda abordando o tema financiamento, o consultor de políticas públicas, Fábio Ribas Jr, expôs o conteúdo do guia “Conhecer para Transformar”, elaborado pela empresa em que é diretor, a Prattein, com a colaboração da InterAge (Consultoria em Gerontologia). Essa publicação dá orientações aos Conselhos Municipais, visando a garantia dos direitos previstos no Estatuto do Idoso.

Fabio Ribas Jr., diretor da Prattein

O Guia é dividido em cinco etapas:
1) Avaliação do conselho e formação da comissão municipal de diagnóstico e planejamento,
2) Levantamento e análise de dados e informações sobre as características básicas do município e de sua população idosa,
3) Mapeamento e análise do Sistema de Garantia de Direitos e dos problemas e violações que atingem a população idosa no município,
4) Formulação de propostas de ação para o fortalecimento do Sistema de Garantia de Direitos da pessoa idosa no município, 
5) Inclusão de programas de trabalho no orçamento municipal.
Mesa dos Idosos

Rubens Casado

Além dessas palestras, lideranças de entidades e comunidades que, diariamente, atuam na promoção da qualidade do envelhecimento ocuparam a mesa, do Salão Nobre da Câmara Municipal, para prestarem seus depoimentos. O presidente do Grande Conselho do Idoso, Rubens Casado, foi o moderador.

Estiveram presentes: a jornalista Irene Cruz Annes da Silva, (ex Presidente do Conselho Municipal do Idoso), Neide Garcia Sagioro (Pastoral da Pessoa Idosa), Janete Azevedo do Nascimento (Líder Comunitária do Jd  Aracati), Terezinha Oliveira (Polo Cultural do Cambuci) e o casal Aglaé e Paulo que frequenta o Projeto Maturidade da Oficina dos Menestréis que funciona no Teatro Dias Gomes (Vila Mariana). 

Segmentos

Prosseguido, representantes de diferentes segmentos sociais expuseram trabalhos realizados, mesa que contou com a moderação de Marilia Berzins, doutora em saúde pública e presidente da empresa OLHE (Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento).

A professora universitária Áurea Eleotério Soares Barroso expôs a experiência da Pastoral da Pessoa Idosa, vinculada à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), salientando que esse organismo social é ecumênico, portanto, atende pessoas mais velhas de quaisquer religiões, contando com doações. Tem 25 mil membros, sendo que 19 mil prestam atendimentos domiciliares. Ela reafirmou o que foi dito por outros palestrantes: os idosos são um grupo hetereogênio, cada indivíduo envelhece ao seu modo, por isso, é complexo o atendimento a esse segmento social.

Uma detalhada retrospectiva das políticas nacionais do idoso foi apresentada por Adriana Zorub Fonte Feal, diretora da Comissão dos Direitos dos Advogados Idosos da OAB São Paulo. Ela acompanha a rotina dos Fundos do Idoso (nacional, estadual e municipal). Entre outras ponderações, destacou dois aspectos: a insuficiência no número de profissionais especializados na saúde dos idosos e a necessidade de financiamentos públicos para atender essa população. Atualmente, 94% das casas de repouso para idosos são filantrópicas. Finalizando, sintetizou: leis, estudos e pesquisas existem, é preciso sair do discurso para a prática.

Fernando Lopes, gerente de marketing da Danone, contou que a empresa dispõe de um setor voltado ao desenvolvimento de produtos nutricionais para a terceira idade. Parte dos lucros das vendas é revertida ao programa "Cuidar é Viver", que forma cuidadores de idosos.

O III Congresso de Envelhecimento Ativo prosseguiu até ao anoitecer. Contou ainda com a apresentação de "cases" premiados que participaram de concurso realizado antes desse evento. 

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